Hoje vou falar um pouco de um título que carrega um grande peso nostálgico para quase todos os amantes da nona arte.

Papa-Capim: Noite Branca é um título da MSP (Mauricio de Sousa Produções), que tem um projeto onde consiste em releituras das histórias dos personagens que o Maurício de Sousa criou, pelas mãos de artistas brasileiros já renomados e com estilos diferentes. O projeto foi iniciado em 2009 em homenagem aos 50 anos do Mauricio de Sousa.
A HQ foi lançada pela editora Panini em Abril de 2016, tem como responsável do roteiro Marcela Godoy, Renato Guedes com a arte/cores e Diogo Nascimento e a Paula Goulart responsáveis pelas cores base.
Papa-Capim é um personagem criado por Mauricio de Sousa em 1960 para O Diário Juvenil (um tabloide preto e branco), ele é retratado como um jovem curumim (termo utilizado para quem reside na Floresta Amazônica), tendo o visual do personagem que o remete a um índio. A grande maioria das suas estórias são obviamente envolvendo a natureza e a sua preservação.
A trama gira em torno do índio Papa-Capim (que já está mais crescido que nas estórias tradicionais) tentando provar seu valor e mostrar que já é um homem e não mais uma criança. Num dado momento ele encontra um guerreiro seriamente ferido que tinha sobrevivido a Noite Branca. Com isso ele tem a difícil missão de deter a Noite Branca e de convencer o Pajé de que nasceu para isso.
Neste título vemos o uso do terror voltado para eventos sobrenaturais, digamos que é uma HQ com um lado mais sombrio, tendo inclusive misticismos, possessão, folclore e uso de outros recursos para passar todo o conceito de terror.
É simplesmente sensacional a forma que Marcela Godoy faz para essa HQ ser empolgante, dinâmica e incrivelmente detalhada na cultura indígena. Inclusive a roteirista disse que se inspirou nos vampiros europeus e na lenda dos Tatus Brancos, que eram índios que viviam na Serra da Mantiqueira, vivendo em cavernas e saiam para caçar na parte da noite, com isso obtiveram uma grande facilidade de se adaptar a ausência de luz, eles pintavam os próprios corpos de branco e eram praticantes de canibalismo.
A arte é simplesmente sensacional, Renato Guedes traz um certo realismo para os personagens em primeiro plano, já as paisagens são mais simples, porém não deixam a desejar em nada, mas o grande destaque mesmo são os animais, que são bem realistas com uma aura quase mística, que corre bem com o roteiro em si. Outro destaque é a paleta de cores, que foi utilizado tons mais escuros para médios, com isso ajudando a sensação de terror que o roteiro passa.
Essa certamente é uma HQ que vale cada centavo, muito bem roteirizado e ilustrada, sendo uma ótima leitura.
Ficha Técnica
- Capa dura: 80 páginas;
- Editora: Panini;
- Idioma: Português;
- Roteiro: Marcela Godoy, Renato Guedes;
- Arte e Cores: Diogo Nascimento, Paula Goulart;