Após muitos meses de espera, saiu agora no finalzinho de janeiro, a primeira edição da revista A Taverna, contendo 5 contos de fantasia e/ou ficção cientifica.
Não vou negar que estava muito ansiosa por esse lançamento, uma vez que sempre acompanhei o blog d’A Taverna e sei que fazem um trabalho bacana. Quando li os contos do Diogo Ramos e o livro do Rodolfo Salles, isso só reforçou a minha opinião. É claro que os contos não deixaram a desejar e mostram como a equipe que reuniu essas cinco histórias está empenhada com este projeto, principalmente ao lermos o prólogo, que já nos deixa confortáveis e ansiosos para o que virá a seguir.
O conto de entrada é o Como um Fio que se Estende pela Eternidade, escrito pela Anna Fagundes Martino. Carregado com ironia e humor ácido, acompanhamos o matrimônio telepático entre Edgar, que mora no Sudeste, e a Marina, sulista e enérgica. Edgar começa escutando a mesma voz em sua cabeça, embora não entenda a princípio como alguém consegue fazer isso, uma vez que ele nunca deu permissão. Para seu espanto, um dia ele e Marina finalmente começam a conversar e, a partir daí, vamos conhecendo ambos os personagens e sabendo o que significa um matrimônio telepático.
“Pense em uma ideia fixa: quanto mais você tenta não pensar, mais ela te aferrolha”.
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O segundo conto é As Dores de Cada Um. O autor Rubem Cabral nos apresenta uma história onde Jorge tem a habilidade de curar as pessoas das mais diversas enfermidades: ele entra na mente da pessoa enferma e enfrenta os monstros que estão causando o mal-estar. Digamos que é uma espécie de John Constantine da mente humana. Mas tudo muda quando ele encontra a Theodora em uma festa.
“… seriam as revistas de fofocas disseminadoras de mensagens criptografadas ou mecanismos de um plano nefasto de idiotização das massas?”
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Venâncio Aguado, escrito pela Leticia Copatti Dogenski, compõe o terceiro conto da Revista. Aqui, a autora nos conta como o personagem principal, Venâncio, começa a ficar adoentado e a família, cada vez mais, se vê sem saber o que fazer. Isso até perceberem que, todas as vezes que o homem fica na água, ele fica muito mais calmo, até que eles começam a achar que ele virará um peixe. Mas se prepare para um conto que irá te tirar da zona de conforto.

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Renan Bernardo nos apresenta A Norma Aqui em Cima, que muito me lembrou a série 3%, da Netflix. Abá mora na favela e teve implantado em seu cérebro um dispositivo que transforma o que ela pensa em falar para uma forma que esteja dentro dos padrões da Norma. Sua mãe a fez passar por essa cirurgia para que ela pudesse frequentar a escola. Abá é mãe de duas crianças e embora o menino seja esperto para as ruas da favela, a menina tem o sonho de ser advogada. Porém ela vê os sonhos dela e de sua filha serem ameaçados quando um dos seus colegas de classe da menina a dedura para que passe por uma Revisão.
“…mas Zana, porra, tinha aquilo que ninguém ali em cima podia ter. Sonho. E sonho de filha é sonho de mãe.”
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E para finalizar, Asas, da Daniela Almeida, compõe o quinto conto. Não vou mentir que esse foi o meu conto favorito.
Em uma sociedade em que as pessoas, quando crianças, podem nascer com partes de animais, Alrane nasce com asas pretas no lugar dos seus braços. A menina ama suas asas e tudo o que mais gosta é de ficar com os pássaros, mas as pessoas dizem para ela não ir para longe, para não se perder e que o melhor mesmo é que ela fique com os pés no chão. Porém, conforme ela vai crescendo, suas asas não dão lugar novamente aos seus braços, como seria o normal, e isso preocupa muito seus pais. Vou parar por aqui, pois esse conto realmente mexeu muito comigo. Ele foi lido no momento em que eu mais precisava e não negarei que chorei ao ler. Cada passo que a personagem deu, sendo para frente ou para trás, me trouxe alguma lembrança da minha vida, fosse ela boa ou ruim.
“ – …deveriam ser aceitas como parte de você.
– Exato! As pessoas são doentes. Querem um camaleão que esteja sempre visível e um pássaro que bata asas com os pés no chão. A não ser que a pele do camaleão ou as asas do pássaro sirvam a eles. Daí, tudo muda…”
…
Fica aqui a minha super indicação para ler os contos que integram a primeira edição da Revista A Taverna. Todos os contos te levarão a refletir sobre a nossa sociedade, como nos portamos perante ela e até mesmo o que realmente somos.
Espero ansiosamente a segunda edição. A equipe já anunciou que estão recebendo os contos para a próxima revista e, caso tenha interesse, deixo aqui as redes sociais deles para que possa saber mais.
Um beijo e até.
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Resenha da primeira edição da revista A Taverna 💙
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